Estudo Bíblico - Levíticos


Levítico (do grego Λευιτικόν"Leuitikon", do original hebraico "torat kohanim") é o terceiro livro da Bíblia hebraica (em hebraicoוַיִּקְרָא"Vaicrá" - "Chamado por Deus"[1]) e do Antigo Testamento cristão. O termo em português é derivado do latim "Leviticus", emprestado do grego, e é uma referência aos levitas, a tribo de Aarão, os primeiros sacerdotes judaicos ("kohanim"). Endereçado a todo o povo de Israel (Levítico 1:2), o livro contém algumas passagens específicas para os sacerdotes (Levítico 6:8, por exemplo). A maioria de seus capítulos (1-7; 11-27) são discursos de Deus no monte Sinai a Moisés, que recebeu a missão de repeti-las aos israelitas, durante o Êxodo (Êxodo 19:1). O Livro do Êxodo narra como Moisés liderou os israelitas na construção do Tabernáculo (caps. 35-40), que era uma tenda que servia como "templo" móvel dos judeus durante a jornada pelo deserto, com base nas instruções de Deus (25-31). Seguindo a narrativa no Levítico, Deus conta aos israelitas e a seus sacerdotes como realizar as ofertas no Tabernáculo e como se portar enquanto estavam acampados à volta da tenda do santuário. Os eventos no Levítico ocorreram durante o período de trinta a quarenta e cinco dias entre o fim da construção do Tabernáculo (Êxodo 40:17) e a despedida dos israelitas do Sinai (Números 1:1Números 10:11). As instruções no Levítico enfatizam práticas rituais, legais e morais ao invés de crenças. Mesmo assim, elas refletem a visão de mundo da história da criação em Gênesis 1, quando Deus revela o desejo de viver entre os homens. O livro ensina que a realização fiel dos rituais no santuário tem o poder de tornar isto possível se o povo se mantiver longe do pecado e das impurezas sempre que possível. Os rituais, especialmente os relativos ao pecado e as oferendas decorrentes, são formas de se obter o perdão (caps. 4-5) e a purificação das impurezas (11-16) para que Deus possa continuar a viver no Tabernáculo. A visão tradicional é que o Levítico foi escrito por Moisés — ou que o material nele remonta à sua época —, mas pistas internas sugerem que o livro foi escrito muito mais tarde na história de Israel e se completo ou no final do Reino de Judá, no fim do século VII a.C., ou no período do cativeiro na Babilônia e logo depois, nos séculos VI e V a.C.. Os estudiosos debatem se ele foi escrito primordialmente para a liturgia judaica no exílio, centrada na leitura e na pregação, ou se para instruir os fieis nos templos de Jerusalém e da Samaria. Seja como for, eles são praticamente unânimes ao afirmar que o livro levou um período longo de tempo para se desenvolver e, embora ele contenha material de considerável antiguidade, o Levítico atingiu seu formato atual durante o período persa (538–332 a.C.). Os capítulos um a cinco descrevem os vários sacrifícios do ponto de vista dos ofertantes, destacando o papel dos sacerdotes na lida do sangue. Os capítulos seis e sete tratam do mesmo tema, mas do ponto de vista do sacerdote, que, como o responsável pelo sacrifício de fato e por dividi-los em pedaços, precisa saber como o procedimento deve ser realizado. Os sacrifícios devem ser divididos entre Deus, o sacerdote e os ofertantes, embora, em alguns casos, o sacrifício todo deva ser entregue a Deus em uma única parte — a porção de Deus era queimada até virar cinzas. Os capítulos oito a dez descrevem a consagração de Aarão e seus filhos por Moisés como os primeiros sacerdotes ("kohanim"), os primeiros sacrifícios e a destruição de dois dos filhos de Aarão (Nadabe e Abiú) por Deus por ofensas rituais. O objetivo destes capítulos é sublinhar o sacerdócio no altar (os responsáveis pelo sacrifício) como um privilégio aaronita e também os perigos e responsabilidades inerentes à posição. Com o sacerdócio e os rituais de oferta estabelecidos, os capítulos onze a quinze instruem os leigos sobre a pureza (ou "limpeza"). Comer certos animais resulta em impureza assim como dar a luz; certas doenças de pele (não todas) são impuras, assim como são certas condições de construções e roupas (como mofo e similares); líquidos genitais, incluindo o sangue menstrual e a gonorreia masculina, são impuros. O racional por detrás das regras alimentares é obscuro, mas o princípio central inerente a todas essas condições envolve a perda de uma "força vital", geralmente (mas não sempre) através do sangue. O capítulo dezesseis do Levítico é sobre o Dia do Perdão ("Yom Kipur"), o único dia no qual o sumo-sacerdote pode entrar na parte mais sagrada do santuário, o Santo dos Santos. Ele deve sacrificar um touro pelos pecados dos sacerdotes e um bode pelos pecados dos leigos. Um segundo bode deve ser enviado para o deserto (para "Azazel") levando os pecados de todo o povo. É possível que Azazel seja um demônio do deserto, mas sua identidade é obscura. Os capítulos dezessete a vinte e seis compõem o "Código da Santidade". Ele começa com a proibição de todo o abate de animais fora do Templo, mesmo para comer, e em seguida proíbe uma longa lista de contatos sexuais e, especialmente, o sacrifício de crianças. Os mandamentos de "santidade" que emprestam seu nome ao código começam na seção seguinte: penalidades são impostas para a adoração a Moloque, a consulta a médiuns e magos, o amaldiçoamento dos pais e as relações sexuais ilegais. Os sacerdotes são instruídos sobre os rituais de luto e os defeitos corporais aceitáveis. A blasfêmia deve ser punida com a morte e regras são impostas sobre o que se pode comer dos sacrifícios; o calendário e as regras para os anos de Jubileu e Sabáticos são explicados; além disso, há regras para as lâmpadas de óleo e o pão O livro inteiro é composto de literatura sacerdotal. Os estudiosos avaliam os capítulos 1 a 16 (o "Código Sacerdotal") e os capítulos 17 a 26 (o "Código da Santidade") como sendo obra de duas escolas relacionadas, mas, apesar de empregar os mesmos termos técnicos do Código Sacerdotal, o Código da Santidade amplia seu significado de puramente ritual para um material teológico e moral, transformando-o num modelo para a relação de Israel com Deus. O Tabernáculo é santificado pela presença de Deus e é mantido longe das impurezas e do pecado para que Deus possa viver no meio de Israel enquanto Israel estiver purificado (santificado) e se mantiver separado de outros povos. As instruções rituais do Código Sacerdotal aparentemente tiveram origem nas instruções e respostas práticas sobre assuntos rituais. O Código da Santidade era considerado um documento separado posteriormente incorporado no Levítico, mas aparentemente seus autores foram editores que trabalharam com base no Código Sacerdotal e produziram o Levítico como conhecemos hoje. no santuário; e regras sobre a escravidão. O código termina alertando os israelitas que eles precisam escolher entre a lei e a prosperidade por um lado ou, por outro, punições horríveis, incluindo o banimento, a pior delas. O capítulo vinte e sete é muito diferente dos demais e provavelmente é uma adição posterior. Ele trata de pessoas e coisas dedicadas a Deus e como juramentos podem ser redimidos se não puderem ser cumpridos. Levítico, como parte da Torá, tornou-se o livro legal do Segundo Templo de Jerusalém e também do templo samaritano. Evidências de sua influência foram encontrados entre os manuscritos do Mar Morto, incluindo fragmentos de dezessete manuscritos do Levítico datando dos séculos III a I a.C. Muitos outros manuscritos citam o livro, especialmente o Rolo do Templo e 4QMMTAs instruções do Levítico sobre os sacrifícios animais não são mais observadas por judeus ou cristãos deste o século I. Por causa da destruição do Templo, em 70 a.C., a adoração judaica se focou na oração e no estudo da Torá. Ainda assim, o Levítico ainda é uma importante fonte do direito judaico e é tradicionalmente o primeiro livro ensinado às crianças no sistema rabínico de educação. Há duas principais Midrashim sobre o Levítico: uma halaquica (Sifra) e outra mais agádica ("Vaicrá Rabá"). Novo Testamento, particularmente a Epístola aos Hebreus, utiliza ideias e imagens do Levítico para descrever Cristo como o sumo-sacerdote que oferece seu próprio sangue como oferta pela remissão dos pecados. Com base nesta doutrina, os cristãos também não realizam sacrifícios animais, como sumariza Gordon Wenham: "Com a morte de Cristo, a única e suficiente 'oferta imolada' foi oferecida de uma vez por todas". O nacionalismo também passou a ser interpretado a posteriori pela tradição bíblica quando se afirma que a terra é apenas uma concessão divina ao seu povo, não podendo então ser vendida.

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